Quem já acompanhou o blog de algumas das viagens anteriores que realizamos (vou passar os links no final), provavelmente se lembra que o post do dia da chegada é sempre um post diferente. Não pela forma, mas pelo conteúdo mais emotivo. E isso tem uma razão bem objetiva. O último dia de estrada, aquele que nos leva até o destino final, é sempre um dia onde as emoções afloram. Cada viagem dessas, tem sempre um componente de sonho realizado e de objetivo alcançado. E por mais lúdico que esses objetivos possam parecer, muitas transformações acabam acontecendo como consequência dessas experiências. Já disse inúmeras vezes e continuarei repetindo: é impossí
vel não voltar de uma viagem dessas diferente do que éramos quando partimos. E em uma expedição dessa envergadura, com os tipos de dificuldades e desafios que tivemos que enfrentar, acentua sobremaneira esse processo.
O dia em Khabarovski começou
nostálgico. Hoje, foi cheio de “a última” alguma coisa. A última vez que arrumamos a bagagem nas motos, a última vez que vestimos as jaquetas, a última abastecida, o último trecho de estrada. E começamos com a última foto da partida, na saída de Khabarovski:
Saímos com clima perfeito, temperatura na casa dos 20 graus, tempo nublado com previsão de chuva pelo caminho. A autonomia da moto do Rodrigo caiu drasticamente, pelas nossas contas, ela não estava conseguindo fazer mais do que 8 km/l, o que reduziu nossas paradas para intervalos não superiores a 150 KM (em comparação aos 250 km que estávamos fazendo em média anteriormente). Portanto, isso significava mais paradas e mais tempo dispendido na estrada. Esse último trecho de 780 KM também se mostrou bastante deserto, até para encontrar lugar para comer foi difícil, já que os postos na estrada não tinham mais cafés ou comida, eram apenas bombas para abastecimento e uma pessoa cobrando por trás de um vidro. Mas até nisso demos sorte, pois escolhemos um café para parar melhor do que qualquer outro no qual já havíamos parado. E nesse café, quando chegamos, demos de cara com o que está na foto abaixo:
Fala a verdade, com o que isso que está na foto se parece para você? Duvido que você não tenha pensado em pão de queijo… hehehehe… pois é, os dois animais mortos de fome por volta das 15h, quando viram essa cena, esqueceram qualquer tipo de racionalidade (afinal, só maluco pra achar que num café no meio do interior da Rússia alguém ia ter pão de queijo para vender), e iludidos pelas armadilhas de um cérebro faminto e com saudade da comida brasileira, pediram dúzias de “pão de queijo” pra comer… A bem da verdade, só não pedimos mais porque a atendente, quando entendeu que a gente queria um monte de “pão de queijo”, ela conseguiu nos fazer entender que os tais pães eram servidos aos pares e que se a gente pedisse um já viria depois e poderíamos pedir mais depois, se fosse o caso.
O que você pensa quando pede um pão de queijo da vitrine? Que ele será servido imediatamente, afinal, basta pegar, colocar num prato e servir. O problema é que, por exemplo, a sopa e o prato quente que Rodrigo pediu chegaram ANTES do “pão de queijo”… Eu já tava ficando puto com a situação. Cacete, só pedi coisa da vitrine enquanto Rodrigo pediu um combo com sopa, salada, prato quente, um banquete. A lógica seria que eu comesse rapidaço, já que era só servir. E a comida do Rodrigo, que teoricamente daria muito mais trabalho pra servir, chegou antes. Percebemos que tinha boi na linha…
Eis que, finalmente, chega o pão de queijo. Estranho…. Veio com um creme no prato… que costume estranho, comer pão de queijo com uma espécie de chantilly…
Mas ok, o que importa é o pão de queijo. Os dois animais atacaram feito nômades do deserto chegando a um oásis de água pura e… o “pão de queijo” era um bolinho doce, meio amargo, meio azedo e o creme, pra piorar, não tinha nada de doce e era parecido com um sour cream, que só deixava a mistura toda ainda mais… azeda!!!!!!! E assim terminou nossa esperança de encontrar pão de queijo no interior da Rússia… L
E assim o dia foi passando, com os “últimos” momentos se sucedendo. Abaixo, o último perrengue de estrada, um trecho de uns 20 KM de estrada de chão, com muita pedra solta, mas que foi bacana pra encher a jaqueta de poeira, tipo dos pés a cabeça empoeirados. Não seria uma viagem perfeita sem pelo menos uma vez ter enfrentado o poeirão:
Também veio a última abastecida:
O último bicho da jaqueta – aliás, eu estou até agora tentando imaginar qual foi o monstro que explodiu no meu peito e deixou esse tamanho de estrago. Pelo tamanho da meleca, capaz de ser um passarinho…
A última conferida no GPS, quando faltavam 250m para chegar a Vladivostok:
E a última entrada triunfal no objetivo do dia, que na verdade, era também o objetivo final da viagem.
Na chegada a Vladivostok, quando avistamos o mar do Japão, paramos as motos para as fotos obrigatórias, os abraços emocionados e ainda encontramos uns russos que estavam por ali pescando e trocaram bandeiras conosco. O mais legal foi a alegria do menino tirando foto em cima da moto!
E pra fechar não apenas o dia, mas a viagem com chave de ouro, quando estávamos já próximos de Vladivostok, percebi que ultrapassamos um Troller cheio de adesivos e bandeiras. Associei o Troller com o Brasil, até imaginei que podiam ser brasileiros, mas àquelas alturas, tudo que a gente queria era chegar de uma vez, e seguimos em frente. Qual não foi nossas surpresa quando no momento em que já estávamos no hotel e nos preparávamos para ir jantar, toca o telefone e era o casal do Troller!!!! O Renan e a Paula estão viajando o mundo há 3 anos no Troller e também estavam, de certa forma, celebrando a chegada em Vladivostok, já que de lá o carro irá de navio para o Chile, com a viagem deles retornando a América do Sul. E ao chegarem, eles tentaram outro hotel, não deu certo, e por uma feliz coincidência terminaram no mesmo em que estávamos. Quando viram as motos estacionadas com bandeiras do Brasil, conseguiram nosso quarto na recepção e fomos jantar juntos. É claro que quatro brasileiros celebrando, só podia dar merda… 🙂
Começamos com uma garrafa de vodka pra abrir os trabalhos e escolhemos o maior king crab disponível no aquário do restaurante do hotel (diga-se de passagem, restaurante excepcional, cuja especialidade são os tais caranguejos gigantes que ficam expostos vivos para que nós, animais irracionais carnívoros e impiedosos com os pobres dos bichinhos, os escolhamos para que eles possam ir à panela ainda vivos, como manda o figurino. O problema é que pra cozinhar o caranguejo demorou uma eternidade enquanto a primeira garrafa de vodka “evaporou” no ritmo do entusiasmo da conversa dos quatro viajantes, e foi seguida pela segunda, e por um monte de cerveja russa, e quando o caranguejo finalmente chegou, a viola já estava em cacos e tava todo mundo louco. A celebração seguiu nesse ritmo até a uma da manhã, hora do restaurante fechar, e no dia seguinte, além da dor de cabeça infernal, tínhamos certeza que haveria uma placa no restaurante com algo como “proibida a entrada de brasileiros, especialmente se forem viajantes malucos comemorando alguma coisa em Vladivostok”… J
E como esse post já ficou grande demais, vou guardar as considerações finais da viagem (aquela parte emotiva… hehehe) para um post especial e exclusivo sobre o tema!
Pão de queijo……claro!!! kkkk
Eu como vim de família tradicional mineira sei bem o que é ter uma visão de tal iguaria numa lanchonete/restaurante! 😉