Na estrada

Dia 3 – Kazan – Lake Turgoyak – 890 KM

Hoje foi um dia difícil. Além da elevada quilometragem, a temperatura saiu muito. Saímos de Kazan com 19 graus e chegamos a 30 na estrada. Além disso, principalmente na primeira metade, muito movimento, muito trânsito, muita estrada em obra. Para se ter uma ideia, nas primeira 3 horas rodamos apenas 140 km. Felizmente deu pra recuperar ao longo do dia e cumprimos a programação em cerca de 13 horas, parando apenas para abastecer, comer alguma coisa e para tirar algumas fotos.

Com exceção das obras e do calor, a viagem permanece ótima. Acho que começamos a entender a preocupação de alguns russos quando nos avisaram que a viagem é perigosa. O que acontece é que a maior parte da viagem é em estradas de pista simples e com MUITO movimento, mas muito mesmo, principalmente de caminhões pesados. Mas como a maior parte também é de retas, para nós, que estamos de moto, isso não é necessariamente um problema, já que as ultrapassagens são facilitadas. Qualquer pessoa que já atravessou a Serra do Cafezal entre São Paulo e Curitiba, com absoluta certeza enfrentou condições de rodagem 1000 vezes mais complicadas. Mas como estamos na Europa em que normalmente as estradas são perfeitas, as estradas Russas para os lados de cá acabam se tornando “perigosíssimas”. Ah, a benção que é o aprendizado quanto à relativização das coisas… 😉

Já dá pra perceber que a natureza vai ficando mais “selvagem”. A paisagem mudou acentuadamente, estamos rodando agora por entre algumas montanhas e muitas árvores. Hoje passamos por Ufa, que da entrada da cidade parece ser uma metrópole muito concentrada cheia de prédios altos e seguimos rumo a Miass, onde fica o Lago Turgoyat. O hotel em que estamos é literalmente na beira do lago, um lugar muito bonito onde vamos tentar usar a churrasqueira que estamos trazendo amarrada na moto (sim, entre nossa bagagem, há uma churrasqueira, dá uma olhada em qualquer foto da moto do Rodrigo e presta atenção em cima do baú traseiro…). A ideia é fazer um churrasco de urso em algum lugar (não, não mataremos nenhum urso, mas achamos que será possível encontrar carne de urso pra comprar). Acho que aqui ainda não estamos suficientemente enfiados no lado selvagem pra achar urso, mas com certeza um filé de cavalo já deve dar pra assar. Estamos aqui no Sul dos Montes Urais, outro ecossistem mítico russo. Isso com certeza explica a mudança na paisagem. A partir de amanhã, a viagem pela “transiberiana” começa de fato, já que após os Montes Urais até Vladivostok, só temos Sibéria pela frente. Também estamos muito próximos da fronteira do Cazaquistão, mas entrar lá seria complicado pela burocracia com as motos, não planejamos a viagem para isso.

Numa das paradas, deu pra ver que esse lado “selvagem” reservará ainda muitas novidades. Por exemplo, saca só o banheiro do posto onde abastecemos…

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A natureza selvagem também começa a se perceber na quantidade de bichos mortos grudados na moto. Dá só uma olhada no farol da minha moto na chegada a Turgoyat…

 

 

Também está virtualmente impossível achar alguém que fale inglês. O hotel onde estamos tem padrão internacional, bom serviço, tudo perfeito. Mas pra conseguir pedir ontem no restaurante por volta da meia noite, a hora que conseguimos ir jantar, reuniu-se uma pequena convenção de 8 pessoas pra conversar com a gente. O que na prática não adiantou picas, porque o “chef” ainda veio à nossa mesa umas 4 vezes pra ajustar o prato! 🙂 Tentamos ser simples e pedimos só frango com batata. No final, virou frango recheado com queijo, tomates cereja e batatas na brasa com manteiga pra acompanhar. E assim continuam se derretendo os estereótipos. Todos, sem exceção, amáveis, interessados e se divertindo tentando se comunicar com a gente. A única coisa que enche o saco são os Narguilés, o povo consome esse trem como se fosse água, e ontem jantamos entre duas mesas soltando aquela fumaça adocicada pro nosso lado.

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Ah, e ainda falando na amabilidade do povo, isso está sendo um prato cheio pro Rodrigão, sempre fazendo amigos por onde passa. Ontem, por exemplo, ele ficou íntimo do Rasputin, que disse que estava tentando lembrar do inglês que aprendeu em 1964 (não éramos nascidos…) pra se comunicar com ele:

 

 

Temos um GPS na moto (BMW Navigator IV) com sistema operacional Garmin, mas ele está sendo de muito pouco serventia. Basicamente, porque temos que entrar tudo que queremos procurar em Russo! O que está nos salvando, mais uma vez, é o bom e velho celular. O Google Maps para o detalhe (nas cidades em que temos rede de celular funcionando, o que tem sido frequente até agora) e o Sygic, que é um GPS offline que tem funcionado exemplarmente. As motos tem uma gambiarra com uma tomada de 12v puxada próximo ao guidão, o que virou uma mão na roda (na volta vou fazer uma gambiarra igual na minha… hehe). Outra coisa que chama a atenção é que tudo que é tipo de comida é meio adocicada. Eles vendem nos postos um tipo de empanada com recheio de carne ou queijo e é sempre meio doce. Outra coisa comum é um salgado cuja massa parece um biscoito de polvilho, também recheado com carne, que também é meio doce. Temos a impressão de que a ideia é ser neutro e o consumidor adiciona o que quiser. Outra coisa interessante é que não existe adoçante na Rússia! Bom, essa afirmação talvez seja meio exagerada, mas em uma semana aqui não encontramos um único sache ou frasco de adoçante em lugar nenhum. Nem mesmo em hotéis de rede internacional no café da manhã. Assim como também não encontramos nenhum outro refrigerante light ou zero que não coca zero.

Os preços são bem camaradas. O litro da gasolina na casa de R$ 1,80, a lata de coca cola em torno de R$ 4,00 e a refeição mais cara, que foi um steak de 400g espetacular servido com batata frita, mais uma cerveja de 600 ml custou cerca de R$ 50,00 por cabeça. Ao final vou postar uma planilha com todos os custos de combustível e hoteis, mas na média, estamos pagando entre R$ 200 e R$ 300 reais o quarto duplo, sempre ficando em hotéis de excelente nível sem necessariamente preocupação de economizar (até pra aproveitar que os hotéis são comparativamente mais baratos). Ou seja, ao que tudo indica, o maior custo será mesmo o de aluguel das motos.

E agora, vamos atrás de um filé de urso ou de cavalo e ver se podemos fazer gofo na beira do lago sem causar problema com a administração do hotel… 🙂

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